Tenho saudade.
Tenho saudade da nostalgia que me embriagava de recordações passageiras sobre um passado prematuramente próximo.
Tenho saudade dos elementos constituintes de todas as sessões de afeições marcantes - esses seres repletos de afectos com quem partilhei terríveis ressacas sentimentais.
Tenho saudade da repulsa despertada pela consciência constantemente corrigida pela razão mais honesta. Tenho saudade de olhar para o caminho que ficou para trás e sentir que, felizmente, já não lhe pertenço.
Tenho saudade de sentir o horizonte como o único caminho possível dentro de um mar de possibilidades perpétuas.
Tenho saudade de olhar os olhos enxaguados da criança que fui e perceber que a terrível queda do meu gelado preferido seria a única coisa que me provocaria o choro, eternamente.
Tenho saudade de penetrar nas cicatrizes do meu cérebro e perceber a brevidade de todas elas.
Tenho saudade de adormecer na companhia de um abraço apertado, no colo de um sorriso honesto.
Aos poucos, tudo o que nos compõe consome-nos como se nada até então fizesse qualquer sentido, tal como tudo o que ainda nos espera. É como se todos os caminhos fossem dar aos mesmos sítios e como se nada, para além do que somos, fosse tão imperfeito. Muito honestamente, a saudade está a matar-me.
Já vos falei do que tenho saudade?
Muito bom texto. Plena realidade!
ResponderEliminarDavid Barbas