sábado, março 09, 2013

O diário do Planeta Terra

"Aquela conversa foi como uma lufada de oxigénio para os meus pulmões.

Há muito tempo que não me proporcionavam momentos como o de hoje. Aliás, há mais de um século que me mantenho solitáriamente resguardada de toda a lixeira de sentimentos humanamente desumanos.
A terra está escassa de pessoas inteligentes e sensíveis. Há centenas de anos que a espécie humana escasseou e, hoje, é maior o número de prédios do que habitantes e maior o número de máquinas do que pessoas.
Para que percebam o que digo, por exemplo, há meses que não contacto com um ser humano. O meu patrão é um robbot e, para falar a verdade, estou a ficar preocupada porque ontem dei por mim a desabafar com o microondas. Não é que me sinta louca por isso, o problema está no facto de ele me ter respondido. 
* * *
Mas, para meu espanto, hoje eu consegui encontra um ser igual a mim. Um ser que sente com o coração e que pensa com a cabeça. Um ser humano que respira e que, embora imortal, se assemelha aos nossos ancestrais. E, embora desconhecido, eu senti que estava a comunicar com um amigo de longa data, com um irmão, com um ser igual a mim.
Dei por mim a contemplar o simples movimento que os seus lábios faziam ao tornar as palavras audíveis e conseguia decifrar, através das suas palavras, o significado de cada cicatriz que ele apresentava no rosto. Tomara, em tempos, posse nos comandos militares e participara em várias missões ao planeta Marte. Embora novo, acabara por se reformar devido ao cansaço e, tal como o próprio me disse "devido à necessidade de viver como um ser minimamente humano".
A conversa durou cerca de 4 minutos e eu consegui conhecer-lhe a vida inteira.Posso ainda dizer que a partir do segundo minuto de conversa eu tive a sensação de que o conhecia o suficiente para poder amá-lo eternamente."




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