Todas as noites, antes de deitar,
eu ainda sinto o teu cheiro nos lençóis que nunca mais tive coragem de colocar.
Ainda permanece a imagem desfocada da tua mão sobre a minha. Ainda há raspas de
limão e pétalas de rosas por tudo o que é canto – tu e essa tua mania de querer
ser romântico.
Tenho a almofada cheia e a alma
vazia: o que posso fazer para te ter de volta?
Hoje é só mais uma noite: uma das
365 noites em que já adormeci na ausência da tua presença. E, desde que
partiste, nada mudou: continuo a desejar acordar ao teu lado, com aquele
sorriso que me rasgava o peito: porque agora tudo o que me resta é um peito
rasgado sem o teu sorriso. Aquele que fazias cada vez que eu dizia que ninguém
fazia café como tu. Aquele que consigo ver nitidamente de olhos fechados como
se ainda aqui estivesses.
Ainda tenho o teu relógio parado no
meu pulso. Sabes para que serve? Para sentir que o tempo está parado e que em
vez da vida ter-te roubado de mim, fui eu quem escolheu parar de viver para não
te ver partir. Como podes ver ainda sou a mesma egoísta de sempre. Mas o que é
amar senão ser covarde e egoísta? Aliás, eu sei (tu dizias) que o relógio só
voltará a trabalhar no teu regresso. Mas, então, tu nunca mais voltaste. O que
vou fazer a esse respeito? Diz-me! Diz-me quantas cordas terei eu de rasgar até
que o meu coração volte a bater por um relógio que nunca voltará a pulsar.
Tenho a caixa do correio cheia de
postais, de cartas que ficaram por ler e de abraços que ficaram por entregar. E
por falar em lembranças, será que ainda te lembras da forma como nos
completávamos? É que, não sei se o mundo sente o mesmo, mas eu continuo a
tentar completar um puzzle sem fim: era nosso e agora foi-se.
Que mal há em duas pessoas que se
amam e que querem ficar juntas para sempre? Raios partam quem criou em nós essa
ideia de ser-se eterno quando a única certeza que temos é a de que caminhamos
todos para o mesmo fim: a morte.
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