Falta-me tudo menos a tua falta. Falta-me o ar, o er e o ir. Falta-me o ontem, o hoje e o amanhã. Falta-me o dia, a noite e a sombra que existe entre ambos. E, entre o tudo e o nada, faltas-me tu, a par da luz dos teus passos, do calor dos teus braços, da humidade dos teus lábios, e de todo o resto que resta de mim e de ti (de nós). Falta-me ainda, e agora mais do que nunca, a força (e loucura) necessárias para continuar a viver na tua ausência. Essa falha que me consome, por dentro e por fora, enquanto única certeza de tudo.
E, por mais que eu queira, hoje ser forte é um prodígio. Viver sem ti é não viver. É avassalador ver tudo o que construímos, aos pedaços, espalhados pelas vitrinas da saudade como se fossem pólvora seca em tempo de guerra, onde o tempo repousava como quem se arrastava em tropeços constantes e o amor era um amuleto da sorte.
E por falar em tropeços e amuletos da sorte, falta-me a tua mão a cada queda e o teu consentimento cada vez que tento acreditar em algo transcendente.
E agora diz-me:
Como posso eu viver? Sem a luz dos teus passos, o calor dos teus braços...
Porque, quer queira quer não queira (e acredita que já não quis quantas vezes necessárias), para mim, viver é amar-te. E amar-te é tudo o que sei fazer enquanto alguém que vive. Mas, como amar-te ausente? Como ausentar-me desta dor sem saber amar-te de outra forma?
Resta esperar que o tempo se arraste um pouco mais até que se esgotem todas as pilhas do mundo que fazem o relógio continuar a trabalhar. Esse relógio que carregas ao peito e cujos ponteiros só te levam, á medida que o tempo passa, para mais longe de mim. E longe de mim deixar que o tempo leve a única coisa que me faz viver: amar-te.
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