Deixei tudo para trás.
Rasguei cada farrapo da minha memória e impedi-me de reviver a sombra do que um dia me uniu a ti. Queimei tudo, inclusive as cartas que nunca me escreveste.
Saí pela porta do quarto que nunca existiu, com o coração entre as mãos, e como quem deixa de existir, embriaguei-me pela rua fora, na esperança perdida de encontrar um sentido para coisa nenhuma.
Jamais me sentira assim - ausente de alvoroços.
O vazio preenchia a profundidade do que restava da minha alma. Tanto quanto as folhas cobriam o chão que, à minha passagem, tornavam-se subitamente silenciosas.
Nunca antes tinha tido tempo para contemplar o sabor do vento - tão amargamente solitário. Mas não tanto quanto o sabor da tua ausência. Não tanto quanto a confirmação de cada engano - todas aquelas aparências que nunca existiram - senão aos meus olhos, cegamente enganados.
Na verdade, a vida mostrava-me, agora, em primeira mão, o sabor de perder a razão para seguir uma vida de perfeitas inseguranças.
Sentia-me disposta a continuar o que nunca tinha começado. Sem futuro, sem presente, sem passado.
Eu e o vazio do tempo;
Eu e a sapidez amarga de idolatrar o errado;
Eu e o fardo de ser-se perdidamente apaixonado pela essência do que é vazio.
Enfim, vou procurar se me encontro e devolver-me ao vago de uma tela em branco.
E se, por engano, tudo isto vos parecer demência, procurem uma razão credível para amar incondicionalmente o que vos parece desumano.
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