Aquele tempo de espera estava a matar-me por dentro. O
«tic-tac» do relógio multiplicava-se na sequência de um batimento cardíaco que
parecia obrigar o meu coração a saltar do peito, forçando-me a tirar o relógio
do pulso. A sala estava repleta de gente que esperava, hipoteticamente, o mesmo
que eu: Noticias. Fossem elas quais fossem, o rosto desesperado de todos os que
preenchiam a sala reflectia-se na ânsia desmoralizadora de recebê-las. Cada
vez que uma porta se abria, cada vez que alguém suspirava mais forte ou
qualquer tipo de ruído que soasse a novidade, todos se centravam e erguiam o
olhar na procura constante de algo que os levasse a uma resposta. O calor
humano era cada vez mais intenso e, junto com o desânimo, começava a
estampar-se nos rostos a impotência de esperar muito mais. Uma porta abriu-se
mas eu esperei, com medo e desânimo, que não fossem notícias para mim. Para meu
temor, os passos erguiam-se na minha direcção até que consegui ver uns sapatos
pretos, brilhantes como o luar, a pararem mesmo junto a mim. A voz educada da
mulher loira de olhos azuis fez-me estremecer de receio.
– Trago-lhe notícias. - Disse ela.
Limitei-me a limpar as lágrimas envergonhadas que me
escorriam pelo rosto e, numa lufada de oxigénio, procurei arrancar, das entranhas do meu corpo, toda a força existente dentro dele para aguentar toda a
pressão daquele momento.
- Reconhece esta fotografia? – Seguida destas palavras a
enfermeira ergueu, na minha direcção, a fotografia onde ambos, eu e o Tomás, estávamos
a comer um gelado no nosso último dia de férias, em cuba.
- Sim, reconheço perfeitamente. – Queria ter forças para
perguntar-lhe o que realmente queria saber mas, de facto, a ausência destas parecia cada vez mais real.
A enfermeira aninhou-se, junto aos meus joelhos e, com os
olhos cheios de lágrimas, disse-me:
-Juro-lhe que nunca fizemos tanto para salvar uma pessoa. Ele lutou como nenhum ser humano tinha lutado, antes, pela vida. Contudo, não
sobreviveu aos ferimentos. Lamento muito. Antes de sucumbir exclamou o nome
Beatriz.
Beatriz era o nome da nossa futura filha, a que eu ainda
carregava no corpo. Agora, era tudo que me restava, como fruto de uma
sombra – a sombra de um passado perfeito que, em momentos breves, se tornara num autêntico
pesadelo.
A enfermeira abraçou-me como se sofresse comigo e embalou o meu pranto até que eu perdesse todas as forças para continuar
a chorar. A morte era uma novidade completamente prematura para mim.
A morte é a maior surpresa da vida... nunca estamos preparados, por mais que digamos que sim, ou que nos preparemos...
ResponderEliminarIndependentemente da maneira, ou da altura da vida em que nos toca, é sempre inesperada, rápida, e profundamente transformadora. Para quem parte, transforma-se o estado, de presente para ausente, mas para quem fica a transformação é outra. Interna e profunda. Nunca ficamos iguais ao que eramos...
Bom texto. Aliás, como já é hábito :)