Sempre ouvi dizer que julgar os outros com mentiras incertas
é mais fácil que deitar mãos ao trabalho e descobrir a verdade. Felizmente,
aprendi, desde muito cedo, a separar aqueles de quem gosto, com quem, mais por
educação do que por vontade, convivo e partilho momentos vulgares do meu
quotidiano, daqueles que efectivamente são verdadeiramente importantes para mim,
com os quais sei que posso contar até à morte. Agora percebo quanto a vida se
deslumbra, quanto esta perde encantamento aos nosso olhos à medida que os anos
passam. Talvez porque todos nascemos
aparentemente cegos, incapazes de ver a realidade da qual fazemos parte, onde
as princesas são bruxas e a maldade é abundantemente adquirida.
Afortunadamente, caminhamos todos contra o vento,
acompanhados pelas más energias daqueles que, miseravelmente, procuram na
desgraça dos outros, a felicidade que nunca alcançaram. E encontram. Pois é
certo. É certo que estou mais triste do que nunca. É tão certo que sinto ódio
de alguém que nem sequer conheço. Todavia, estranho seria se não me sentisse
assim, pois sou humana. Mas tenho âncoras por onde subir e mãos que me ajudem a
levantar. E, ao contrário do que aconteceu hoje, eu acredito que amanhã o sol
vai nascer para mim com uma intensidade diferente. Pois, por mais que me sinta
sozinha agora, sei que há sempre alguém que me acompanha, alguém que, embora
fisicamente ausente, abraça-me mesmo sem que eu o sinta, e me ausenta da dor
quando eu sinto que ela, simplesmente, foi-se esporadicamente, quando não foi.
Porque hoje, sinto falta de quem já não está para ouvir-me. Sou teimosa,
poderia escolher outra pessoa, mas ninguém é insubstituível. Que culpa tenho
eu?
Talvez pense demais, sinta demais, talvez faça demais. Pelo
menos, faço alguma coisa. Não ando a passear vendo os outros viver. Fácil ir ao
cinema, sentar confortavelmente numa cadeira e comer pipocas vendo a desgraça
alheia passar na frente dos nossos olhos. A vida me ensinou a participar no
filme, não a assistir a ele.
Vou deitar-me, abraçar a almofada e chorar até que as lágrimas se esgotem ou me
afogue nas mesmas. Porque nada, para além do que sinto, faz qualquer tipo de
sentido agora.
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