"Aquela conversa foi como uma lufada de oxigénio para
os meus pulmões.
Há muito tempo que não me proporcionavam momentos como o de
hoje. Aliás, há mais de um século que me mantenho solitáriamente resguardada de
toda a lixeira de sentimentos humanamente desumanos.
A terra está escassa de pessoas inteligentes e sensíveis. Há
centenas de anos que a espécie humana escasseou e, hoje, é maior o número de
prédios do que habitantes e maior o número de máquinas do que pessoas.
Para que percebam o que digo, por exemplo, há meses que não
contacto com um ser humano. O meu patrão é um robbot e, para falar a verdade,
estou a ficar preocupada porque ontem dei por mim a desabafar com o microondas.
Não é que me sinta louca por isso, o problema está no facto de ele me ter
respondido.
* * *
Mas, para meu espanto, hoje eu consegui encontra um ser
igual a mim. Um ser que sente com o coração e que pensa com a cabeça. Um ser
humano que respira e que, embora imortal, se assemelha aos nossos ancestrais.
E, embora desconhecido, eu senti que estava a comunicar com um amigo de longa
data, com um irmão, com um ser igual a mim.
Dei por mim a contemplar o simples movimento que os seus
lábios faziam ao tornar as palavras audíveis e conseguia decifrar, através das
suas palavras, o significado de cada cicatriz que ele apresentava no rosto.
Tomara, em tempos, posse nos comandos militares e participara em várias missões
ao planeta Marte. Embora novo, acabara por se reformar devido ao cansaço e, tal
como o próprio me disse "devido à necessidade de viver como um ser
minimamente humano".
A conversa durou cerca de 4 minutos e eu consegui
conhecer-lhe a vida inteira.Posso ainda dizer que a partir do segundo minuto de
conversa eu tive a sensação de que o conhecia o suficiente para poder amá-lo
eternamente."