Levantei-me e abri as restantes janelas do velho quarto.
(Respira)
Fazia tempo que não vinha a esta casa. Desde que nos separamos que, cada vez que batia á porta, era como se não houvesse ninguém para além dela. As janelas não se abriam, não havia vestígios de qualquer movimento nem sequer da tua presença. Nunca mais me aceitas-te no teu "mundo", deixaste-me tão sozinha que a solidão foi a tua única companhia desde que o fizes-te.
(Não guardo rancor)Abri as portas do armário enferrujado e retirei um casaco preto, aquele que te ofereci em Paris. (Lembras-te?)
Despi o que trazia na noite passada e vesti-o. Continuava suave e quente.Sei que não era apropriada para a ocasião mas sempre me pediras que a usasse e nunca fi-lo.
(Eras um idiota )
Por fim, retirei do guarda jóias o relógio de bolso que trouxeste de Londres.
"Estou pronta" - pensei.Percorri a pé o caminho que, todos os dias, tu fazias para visitar os teus pais.
Roubei uma Rosa do teu jardim e carrego-a no peito até à tua nova casa.
(O cemitério está repleto)
Estão aqui todos os teus amigos, a tua família e até o Henrique - o teu cão.
Tal como tu, não gosto de cerimónias e acabei por ficar com ele junto á sepultura.
(Como sempre, eu espero)Aí vens, sob a forma daquilo que nunca foste. Hoje, todos te amam, todos te querem e todos perdoam o mal que fizes-te, pois, (incluindo eu) todos querem que descanses em paz.
(Não vou chorar)
Amanhã, todos vão visitar-te e colocar flores na tua sepultura. Mas e depois?
depois vais ser como todos os "heróis" esquecidos entre as lembranças e a novidade do mundo contemporâneo.
(Pára)Espero que leves contigo essa rosa como prova de tudo o que, um dia, significamos um para o outro
Acredito que, quando regressar, irás abrir-me a porta e dar-me o abraço que ficas-te a dever.
(Consciente dos meus actos mas atropelada pela memória dos teus, rasguei a carta e parti o relógio de bolso contra o peito)
gostei muito!
ResponderEliminaradoro a música *