Depois de comprar o jornal, como sempre fazia, dirigi-me á calçada e percorri-a sem piedade.
Tinha vontade de percorrer tudo o quanto antes, tinha um sentimento que me era desconhecido mas que queria conhecer.
(Foi então que apareces-te)
Estacionei minimamente o meu olhar em ti e esperei que algo de vulgar e subtil acontecesse, um paradoxo entre o real e a imaginação.
Despojei toda a minha concentração no sal da água e deixei ondular-me pela mão do teu corpo.
Quando me envolves-te com os braços como fazias com um bebe eu senti realmente que já não me crias.
Beijaste-me a fronte e sais-te da praia a correr e a acenar com um sorriso verdadeiro mas sem vontade.
(Foi a última vez que me lembro de te ver).
" -Hoje já muito tempo se passou, no entanto, a memória não apaga o que o pensamento exclui, ou pelo menos tenta.
Só queria que soubesses, estejas onde estiveres, que deixei a cidade. Levo comigo uma mala vazia de palavras rasgadas pela rajada do sopro que não me deixas-te sentir.
Suporto no peito uma espécie de "time off". Desejo indesejar-te, Quero não querer-te e preciso de não precisar-te .
E ainda que me tenhas abandonado, não sei o que faria se aparecesses novamente.
E se me perguntasses se é porque te amo...
13 de Julho de 2026 ."
No fim coloquei-a no bolso e esperei que o comboio parti-se. Mesmo antes de fazê-lo o pânico instalou-se e tive (mesmo) de abandonar o comboio.
-Por favor parem isto!
Saí arrastada pela porta da carruagem e tropecei de tal forma que acabei por afagar tudo contra o tejadilho. A mala abriu-se, o vazio saiu e todas as cartas se espalharam pelo oculto.
-Já mo podes dizer...
Por momentos acreditei que te tinha ouvido.
(Quis morrer).