Antes de deitar despi-me e libertei a alma. Abri a janela e deixei-a ir. Foi demasiado fácil desligar-me das emoções.
A partir desse momento foi como se falta-se qualquer coisa. "Qualquer coisa" que não é importante agora.
Afastei as cortinas, subi as persianas, abri as janelas e deslizei até á varanda.
A lua ilumina os longos hectares de terra e vegetação. As estrelas estão de tal forma embutidas no céu que é como se nele estivessem penduradas.
Nunca, em toda a minha vida, me apercebera de como a noite é eterna.
Virei-me para o interior do quarto. Sob a cama tinha a caixa. A caixa de tudo o que um dia fui. São recordações?
Não . São águas passadas que as cheias levarão.
Como já disse, a noite está linda e não sinto outra coisa.
A minha missão é fazer de mim aquilo que devo ser - Sem passado, sem sofrimento e sem identidade.
Identidade? que percebo eu sobre isso.
Bem, no fim de contas estou a fazer o que, todas as noites, meio mundo tenta fazer enquanto a outra metade deixa para a noite seguinte.
O que no fundo nos falta é uma missão. Algo que faça com que sejamos autênticos. Sim, autênticos.
Sem segundas preocupações, sem aparentes "ses", sem uma identidade definida como "robotts".
Aposto que, a partir desta noite, a lua nunca mais parecerá redonda.