sexta-feira, agosto 24, 2012

A vampira e o lobisomem


Aquele abraço era tudo o que me restava. O tudo de um nada incerto e vazio. E, embora perdida, aquele abraço fez-me sentir segura dos meus passos quando, na verdade, eu já nem sequer tinha para onde caminhar.
-Se existem anjos da guarda, tu és o meu. – As minhas palavras foram tão credíveis que, no meio de tanta incerteza, elas tornaram-se ainda mais fortes.

Ele limitou-se a fazer o que sempre fizera. Os seus braços fortes e quentes tornaram-se o único lugar do mundo onde eu queria permanecer. Era na presença da sua imagem que eu queria viver. Porque, embora contrariados pela natureza do nosso ser, não havia outra razão para ambos vivermos que não o facto de existirmos um para o outro.
Eu tinha a plena consciência de que era demasiado egoísmo obrigá-lo a permanecer junto a mim e a viver diariamente temendo a minha partida inesperada. 

-Mais tarde ou mais cedo, eu terei de partir, tu sabes disso. Este não é o meu mundo.

Cada vez que lhe tentava explicar o porquê de tais palavras, ele, atropelado pela realidade e procurando esquecer a mesma, limitava-se a abraçar-me até eu sufocar e deixar de sentir o que quer que fosse, para além do seu coração a bater fortemente. No fundo, ambos estávamos a tentar convencer-mo-nos de que algo que, acabaria por acontecer, pudesse não acontecer.

-Enquanto eu sentir o teu coração a bater, eu não vou desistir de ti. – As suas palavras saíram tão frias que a noite gélida dos pólos parecia, agora, mais quente do que nunca. Os seus olhos verdes estavam mais negros do que nunca e a sua mão, enorme e quente, tocava o meu peito, como se procurasse disfarçar, sem sucesso, toda a a dor que sentia ao pensar num adeus eterno.
Ambos sabíamos que o meu coração parara à séculos, contudo, ele fazia-me acreditar, cada vez mais, que este recomeçara a bater e que, jamais, voltaria a parar.
-Ambos pertencemos um ao outro. - Eram as suas palavras, a cada noite.
-Um ao outro. - Limitava-me a repeti-las como se fossem a minha única verdade.
E, a cada dia que passava, eu procurava acreditar, vivamente, na credibilidade de todos os nossos momentos e na possibilidade, embora insensata, verdadeira, de ficarmos juntos para sempre, como se este existisse num mundo onde, hipoteticamente, nada existe.

Mas, enquanto a lua brilhar e o dia da partida não chegar, eu permanecerei assim, feliz com aquele que deveria ser, para mim, um inimigo mortal. Porque, por mais contraditória e impossível que pareça a nossa existência, aos olhos dos outros, aos nossos olhos, não há nada mais certo que tudo isto - um amor proibido mas tão forte que, se não o fosse, muito provavelmente, deixaria de sê-lo.
                                            * * *

Como poderei eu abandonar a razão da minha existência?
E, bem longe, algures nas montanhas, ouviu-se o uivar mais triste e longo de sempre.

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