quinta-feira, março 15, 2012

(Des)lembrada - Capitulo II

       *                                                       *                                          *

Não sei quem sou, o que faço aqui ou qual o motivo da minha existência, no entanto, há algo dentro de mim que me faz lutar pelo regresso.
Uma série de imagens passam-me pela memória, como se, todas juntas, compusessem uma história.
Melhor do que uma história, elas constituem a vida de alguém: O nascimento, a infância, o primeiro passo, o primeiro beijo, o primeiro livro, o primeiro filho, o segundo e o terceiro, a solidão e...

-O que faço aqui? - sinto os meus olhos arregalarem-se perante tal pasmo e as palavras cuspirem-se por entre os meus lábios.
As mãos firmes de alguém fizeram-me encostar á superfície e o olhar intimidativo daquele ser desconhecido mas, simultâneamente, familiar fez-me ceder aos instintos controversos da minha memória.

-chiuu, faz pouco barulho Lua.

Ele sabe o meu nome? Como sabe ele o meu nome? mas, qual é o meu nome?

- De onde me conheces? como sabes o meu nome? quem és tu? - o meu coração acelerado acompanhava o ritmo das palavras que saiam sem qualquer coordenação.

-Aclama-te lua, por favor. - o rapaz de olhos castanhos escuros manteve uma das suas mãos firmando-me contra a superficie e espreitava, intervaladamente, pela fenda que se realçava na rocha.
Como me posso eu acalmar? estou num lugar que desconheço, com alguém de desconheço igualmente.
Ao aperceber-se de que as minhas palavras iriam novamente projectar-se, o rapaz, alto e esguio, tapou-me a boca impedindo-me de fazê-lo.

-Escuta com atenção: se não te mantiveres calma e calada vais colocar não só a tua, mas a nossa vida em risco. Quando chegar o momento certo, irei responder-te a todas as perguntas que nessa cabecinha se acumulam. Agora, por favor, mantém-te em silencio ou vou ter de forçar-te a fazê-lo. - a forma com  pronunciara cada palavra fez-me perceber que ambos nos escondíamos de algo ou de alguém e que, provavelmente, a nossa vida estaria mesmo em perigo.
A consciencialização da situação fez-me baixar o olhar e engolir em seco o medo que percorria o meu corpo.

Mantivemo-nos em silencio durante vários minutos, diria horas. Sempre que pressentia que eu iria falar, os olhos arregalavam-se na minha direcção impedindo-me de fazê-lo.
O tempo de pestanejar foi o suficiente para ficar sozinha - ele tinha desaparecido.
O meu coração acelerou-se e o pouco da saliva que restava escasseou.

O vazio deste lugar está a causar-me arrepios!

(continua)