sábado, março 19, 2011

Um princípio desejado e um fim insensato

Era o vigésimo quinto dia de todos os outros, antes do depois e depois do que ainda não acontecera. O tempo fazia-me acreditar que o sol não vinha mas que a chuva era insensata para um dia-a-dia normal.
Depois de comprar o jornal, como sempre fazia, dirigi-me á calçada e percorri-a sem piedade.
Tinha vontade de percorrer tudo o quanto antes, tinha um sentimento que me era desconhecido mas que queria conhecer.
 (Foi então que apareces-te)

Estacionei minimamente o meu olhar em ti e esperei que algo de vulgar e subtil acontecesse, um paradoxo entre o real e a imaginação.
Despojei toda a minha concentração no sal da água e deixei ondular-me pela mão do teu corpo.
Quando me envolves-te com os braços como fazias com um bebe eu senti realmente que já não me crias.
Beijaste-me a fronte e sais-te da praia a correr e a acenar com um sorriso verdadeiro mas sem vontade.
(Foi a última vez que me lembro de te ver).

" -Hoje já muito tempo se passou, no entanto, a memória não apaga o que o pensamento exclui, ou pelo menos tenta.
Só queria que soubesses, estejas onde estiveres, que deixei a cidade. Levo comigo uma mala vazia de palavras rasgadas pela rajada do sopro que não me deixas-te sentir.
Suporto no peito uma espécie de "time off". Desejo indesejar-te, Quero não querer-te e preciso de não precisar-te .
E ainda que me tenhas abandonado, não sei o que faria se aparecesses novamente.
E se me perguntasses se é porque te amo...
13 de Julho de 2026 ."

No fim coloquei-a no bolso e esperei que o comboio parti-se. Mesmo antes de fazê-lo o pânico instalou-se e tive (mesmo) de abandonar o comboio.
-Por favor parem isto!
Saí arrastada pela porta da carruagem e tropecei de tal forma que acabei por afagar tudo contra o tejadilho. A mala abriu-se, o vazio saiu e todas as cartas se espalharam pelo oculto.
-Já mo podes dizer...

Por momentos acreditei que te tinha ouvido.
(Quis morrer).

segunda-feira, março 07, 2011

(...) Time

Há muito tempo que não me sentia assim - com vontade de transmitir aos outros aquilo que nunca soube fazer. Quando me levantei para tomar o café percebi que o dia ainda não tinha nascido e que certamente estava a confundir o tempo.
Quando olhei o relógio e o ponteiro indicava as 03:00 h, certifiquei-me do quão errada (quanto ao tempo) estava.
Voltei para a cama arrastando o lençol, deitei-me e deixei que me embalassem.
 Esperei, voltei a esperar, virei o rosto e a almofada e esperei (tempo suficiente) para voltar a adormecer.
Foi então que percebi que já tinha esperado demais.
Projectei a almofada contra a cortina e levantei-me (rabujenta).
A campainha tocou de repente e eu senti-me aflita. Não sabia se estava a sonhar acordada, se o relógio estava certo, se eram horas de alguém tocar na campaínha ou se realmente algo de (muito) errado se estava a passar comigo.
Ainda que soubesse o perigo que poderia significar, dirigi-me à porta e abri-a:

Tinha o cheiro aniquilado do vento sufocado e uma mala no centro da escadaria - uma mala velha, magenta velho e que parecia realmente velha.
Arrastei-me até ela e puxei-a para dentro da porta (eu estava a entrar em parafuso).
Espreitei, na esperança de encontrar algo mais e, vagarosamente, bati a porta sonolenta.
Limpei o pó que a mala carregava e procurei onde abri-la. Então ... suspirei bem fundo e abri.

-Baby, wake up. it's time!

«O meu despertador tocou e eu acordei com a luz a bater-me no rosto e a cafeteira na cozinha a transbordar de café.
Desde então, todas as noites, a mala permanece há minha porta, por volta das 03:00 h. Sempre na ânsia de um encontro, de um eventual e absurdo encontro com a fantasia da minha realidade.»